quarta-feira, 9 de março de 2011

O PRESBITERIANISMO REFORMADO SEMPRE SE REFOMANDO

O PRESBITERIANISMO REFORMADO SEMPRE SE REFOMANDO
Por Rev. Áureo Bispo dos Santos

Apresentarei uma breve história do Presbiterianismo até à sua chegada ao Brasil. Ele pertence a um dos ramos da Reforma Protestante do século XVI.
Os diversos nomes recebidos pelas igrejas que abraçaram  a Reforma estão, em alguns casos, ligados aos líderes que iniciaram esse movimento em diferentes países: Luteranismo ( Lutero ) e Calvinismo ( Calvino ). Este reformador, na sua investigação bíblico-teológica, encontrou os fundamentos para a formulação das doutrinas e princípios de fé e ordem que passariam a guiar as igrejas na sua vivência interna e na sua missão no mundo. Na Suíça e noutros países europeus, as igrejas que adotaram as formulações de Calvino foram chamadas Calvinistas ou Reformadas. Já na Escócia, a reforma liderada por João Knox leva a igreja a receber o nome de Presbiteriana. Os puritanos que se estabeleceram nos Estados Unidos da América do Norte se denominaram como presbiterianos. Posteriormente, as missões presbiterianas iniciaram a obra de evangelização noutros países. No Brasil, Ashbel Green Simonton foi o primeiro missionário a aqui chegar em 1859.
Em resumo, quer sejam chamadas presbiterianas ou reformadas, estas igrejas, em diferentes países, têm a mesma fundamentação bíblico-teológica e os mesmos princípios de fé e ordem guiados por um sistema de governo representativo conciliar, isto é, no qual os diversos cargos são escolhidos pela congregação.
Dentre os grandes princípios protestantes reformados, tecerei alguns comentários sobre o da IGREJA REFORMADA SEMPRE SE REFORMANDO (ecclesia reformata semper reformanda). Por que os reformadores formularam este princípio? Ao fazerem as suas reflexões sobre a Bíblia e a História da Igreja Cristã verificaram que o povo de Deus no Antigo Testamento estava sempre passando por um processo constante de decadência e queda. Só o espírito de Javé é que revivia os ossos secos, de acordo com a visão de Ezequiel, capítulo 37. O Novo Testamento descreve que Jesus, ao longo do seu ministério, mostrou, claramente a situação decadente e esclerosada em que se encontravam os líderes do povo de Israel (escribas, fariseus e saduceus). Os apóstolos foram veementes em afirmar que as lideranças judaicas chegaram a tal decadência e desobediência que não só mataram os profetas como também a Jesus Cristo (Atos 2:23 e 7:51-60). A história registra os descaminhos da Igreja Cristã, através de treze (13) séculos da era cristã, principalmente após o edito do imperador Constantino que declarou a Igreja Cristã como religião oficial do Império Romano.
No século XVI, a igreja tinha chegado aos limites extremos de uma organização rica, poderosa, gloriosa, acima dos príncipes, reis e imperadores a quem ela coroava, evidenciando a sua superioridade sobre todos eles. Porém, ao mesmo tempo, tornou-se fossilizada, viciada, com uma estrutura hierárquica esclerosada, apregada às tradições do passado e decadente e morta espiritualmente, pois rejeitou a força do Espírito de Deus, tão bem descrito no grande Inquisidor do genial escritor e romancista russo Dostoievski, a respeito do deplorável estado em que chegou a igreja Cristã. É também neste contexto que Lutero e Calvino deram o grito de alerta para que a Igreja percebesse o seu estado decadente e partisse para uma reforma urgente. Para eles, ou a Igreja se reformava ou morreria. Todavia, ela não só deixou de ouvir o brado de Lutero, mas também resolveu abafar completamente a voz profética deste monge dominicano condenando-o e expulsando-o como herege e, não só ele como também a todos que o acompanhasse, chegando a tal crueldade de criar a “Santa Inquisição”, para exterminar os hereges, seguidores dos reformadores. Para estes, sem a reforma a Igreja poderia ser chamada de Cristã. Mas, de Cristã só tinha o nome. Conhecedores do que aconteceu com o povo de Deus no Velho e no Novo Testamento e, com a Igreja Cristã de seu tempo, chegaram a conclusão de que qualquer Igreja Cristã, está, constantemente sujeita a se tornar decadente e morrer se não se renovar. Daí, chegaram a afirmar que as igrejas que saíram da Igreja Católica Romana poderiam, também atingir à mesma situação a que chegou esta. Então, partiram para formular o princípio da Igreja Reformada Sempre se Reformando. Para eles, é imperativo que a igreja esteja sempre pronta a passar por um processo de reforma na sua caminhada de fé, pois há sempre a tentação muito grande para a instituição abafar a voz do Espírito e o testemunho interno deste mesmo Espírito.

1.      A Igreja é santa e pecadora ao mesmo tempo. É uma comunidade de santos(as) e pecadores(as).
O Novo Testamento registra, primeiro que Igreja é uma Nova Humanidade (Ef. 2:11-17); Novo Israel (Gal. 6:15-16); Nova Criação em Cristo salva e santificada por Ele. É uma comunidade viva, dinâmica, corajosa, livre, criativa, pacificadora e amorosa. Mas, em segundo lugar, é pecadora, dissimulada e insensata (Gal. 2:1-14 e 5:15), além de conflituosa e insincera (I Cor. 11:18-19) e, também orgulhosa e vaidosa (Apoc. 3:16-17).
A partir da perspectiva sociológica, a Igreja é uma organização e, como tal, busca sempre manter uma estrutura e formas adequadas a fim de permanecer estável e segura na sociedade, tendendo para uma instituição conservadora. A partir de uma perspectiva bíblica-teológica, é o corpo de Cristo, uma Comunidade de fé e província do Reino de Deus. Estas duas situações levam a Igreja a viver uma constante tensão.
O Novo Testamento descreve, em segundo lugar, esta tensão. Jesus adverte aos discípulos: “orai sem cessar para que não entreis em tentação porque, na verdade o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mat. 26:41). É no grito existencial de Paulo que se percebe esta situação angustiante e paradoxal de se ser santo e pecador simultaneamente, quando brada: “miserável o homem que eu sou! Quem me livrará deste corpo de morte?” (Rom. 7:27) ou, “o bem que quero fazer não faço, mas o mal que não quero este é o que pratico” (Rom. 8:19).
Diante desta situação de grande perplexidade, vem a resposta do perdão e da misericórdia de Deus, que traz a paz interior: “mas, dou graças a Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor. Assim que, eu mesmo com o entendimento sigo a lei de Deus, mas com a carne a lei de pecado” (Rom. 8:25).

2.      A Igreja é mantida pelo Espírito Santo.
Só o Espírito equilibra esta situação contraditória e ambivalente da Igreja. É um estado extremamente difícil de ser sustentado, a não ser que haja uma entrega incondicional e submissão nas mãos do Espírito de Deus.
O escritor Daniel Jenkins, no seu livro “Strangness of the Church” (Igreja uma comunidade estranha), descreve esta estranheza da Igreja no fato de que quando ela mostra-se envelhecida e, prestes a morrer, de um momento para outro, muda o aspecto e se torna renovada e rediviva. Na carta de Pastor HERMAS, há uma descrição semelhante. Aqui a Igreja é representada como uma velha de cabelos brancos, rosto enrugado, cambaleante e esquelética. Então, o autor volta a olhar a velha e, como surpresa, percebe que os seus cabelos estão pretos e a face se torna como de uma jovem de dezoito anos, com muito vigor e firmeza. É o Espírito que transforma este estado de decadência em vitalidade e renovação. Como já se mencionou, são os “ossos secos” revivificados, segundo a visão profética de Ezequiel.
3.      A Igreja é uma comunidade missionária revolucionária.
Jesus, antes de ascender aos céus, fez uma promessa aos discípulos: “...recebereis o poder do Espírito Santo,  que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia, e Samaria, e até nos confins da terra” (Atos 1:8). No dia de Pentecostes, ele cumpriu a sua promessa quando derramou o Espírito sobre todos que estavam reunidos e os tornou uma comunidade missionária (Atos 2:14-36). O livro de Atos registra a obra extraordinária que o Espírito operou através da Igreja. O Espírito, arrojadamente, conduz a Igreja a ser uma comunidade viva, atuante e radicalmente revolucionária, a ponto de próprios inimigos e perseguidores judeus ficarem perplexos, aterrorizados com o fato de revolução que estes homens e mulheres simples, pescadores, pobres e humildes estarem ocasionando uma revolução chegando a vociferar: “estes que andam revolucionando o mundo inteiro chegaram até aqui” (Atos 17:6). Realmente, a intenção dos judeus era perversa e má. Todavia afirmaram uma grande verdade: A mensagem inspirada pelo Espírito e proclamada pelos discípulos não só converteram milhares de homens e mulheres a Cristo, mas também deixaram os inimigos desbaratados e atônicos, chegando a reconhecer o seu caráter revolucionário quando presenciaram a maravilha que o Espírito realizava por intermédio desta comunidade de fé. Queriam, a qualquer custo exterminar um movimento que estava revolucionando o mundo. Só que não tinham forças para extingui-lo, porque era o próprio Deus que sustentava esta comunidade.
Conclusão:
A identidade da Igreja Presbiteriana tem de estar fundamentada no principio protestante:  Igreja Reformada Sempre Se Reformando. Este princípio revela que a igreja deve viver e ser um movimento dinâmico sempre a caminho. Não há lugar para estabilidade e descanso. Mas, para um processo de reforma e renovação constante, radical e transformador.


EVANGELIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DA IPU

                                  
Desde a sua fundação, em Atibaia,SP, no dia 10 de setembro de 1978, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil tem refletido  sobre a sua  prática de Evangelização,. vinculando-a com o seu conceito de Missão. 1°) Para a IPU, fazer Missão é fazer presente o Reino de Deus na realidade humana integral, como foi a prática evangelística de Jesus, descrita nos Evangelhos;” percorria Jesus...pregando do Evangelho do Reino” (MT 4, 23) Essa também foi a prática da Igreja de Tessalônica, que  foi acusada pelos que se opunham  a Paulo, a Silas e aos primeiros cristãos daquela cidade: “Estes que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui...afirmando ser Jesus outro Rei.”(At 17, 6,7) A principal ênfase à Evangelização é apresentar o Reino de Deus aos indivíduos, às famílias, às cidades e ao mundo. Assim foi o primeiro sermão evangelístico de Jesus. (Mr 1,15) A IPU percebeu que a ênfase dada à prática da evangelização como a “salvação da alma” não é a ênfase do Evangelho, que inclui o ser humano total e a sua realidade. Em segundo lugar, o conceito de Evangelização da IPU é: 2º) Fazer Missão é transmitir o “AGAPEtrinitário isto é, o Amor do Pai, do Filho e  Espírito Santo, por isso Jesus, quando evangelizava, além de pregar, “ensinava... e curava “toda  sorte  de doenças e enfermidades entre o povo.” Evangelizar é cumprir o propósito principal da Igreja Cristã que é incrementar entre todos os seres humanos a prática do “amor a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a si mesmo.” (Mr 12,32)  Evangelizar é uma prática de amor e não pode ter, como alvo o crescimento numérico da Igreja local, nem o aumento da renda e do prestígio social estatístico da Denominação. 3°) Fazer Missão é promover a Unidade, como Cristo planejou em sua Oração  Sacerdotal)Jo17, 21-26) a fim de que todos os seguidores de Cristo sejam “aperfeiçoados  na unidade.” Como o Espírito Santo fez no dia de Pentecostes, quando reuniu pessoas vindas “de todas as nações debaixo do céu”, (At 2,5) para ouvirem as mensagens evangelísticas dos Apóstolos de Jesus, que eram ouvidas e entendidas em uma língua só. Foi o milagre da Unidade. E foi formada a 1ª Igreja “una, santa e apostólica”. . Evangelizar não é produzir divisão entre os que crêem, não é fazer proselitismo para tirar pessoas de outras Igrejas para se tornarem membros de nossas Igrejas, como se a nossa Igreja fosse a única e  a perfeita. Nós estamos aqui no Brasil com o objetivo de convidar todos os brasileiros  para aceitarem o “outro Rei, Jesus” e pautarem as suas vidas pelas diretrizes do Reino de Deus. Alguns membros de nossas Igrejas ainda entendem que não é possível ser ecumênico, ou defender a Unidade e Evangelizar porque essa prática seria contraditória. Eles entendem assim porque só entendem Evangelização como Proselitismo, isto é, tirar pessoas de outras Igrejas.  . Mas desde 1968 temos uma nova compreensão  sobre as populações da América Latina e principalmente do Brasil, porque na Assembléia do CELAM(Conferência Episcopal Latino Americana} , em Medellín, na Colômbia, os bispos católicos romanos do Brasil declaram que “falta à maioria de nossa população uma adesão pessoal ao Cristo, com todos as sua implicações individuais e sociais”,  e mostraram a importância da Evangelização. Para nós, das Igrejas evangélicas isso deve ser uma palavra de alerta que mostra que a no obra de Evangelização devemos incluir os nossos lares, os nossos parentes, os nossos vizinhos, o nosso bairro porque vamos encontrar muitas pessoas que não fizeram ainda a sua “adesão pessoal ao Cristo” dos Evangelhos.

Rev João Dias de Araújo (joaodiasaraujo@uol.com.br)