domingo, 27 de novembro de 2011

SÉRIE: Petiscos de Espiritualidade - Parte II


NO DESERTO DEUS FALA AO CORAÇÃO

Pois agora, eu é que vou seduzi-la,
levando-a para o deserto e falando-lhe ao coração.
Oseias 2.14

Logo depois o Espírito Santo fez com que Jesus fosse para o deserto.
Marcos 1.12
Querida Igreja,
Saúde!

Na Escritura Sagrada o deserto, antes de ser um lugar inóspito, é um lugar para a vivência da espiritualidade. Em hebraico, língua em que foi escrita grande parte do Antigo Testamento, deserto é midebbar (pronuncia-se “midevar”). É uma palavra  composta da preposição “mi” (de) e do substantivo “devar”, oriunda do sema “dabbar”, cujo significado é “palavra”. Logo, o sentido literal de midebbar, deserto, é “Lugar da Palavra”. O deserto, como Lugar da Palavra, aparece no contexto de Israel na narrativa do Código da Aliança (Êxodo 19-23). O texto destaca que foi no deserto que o povo de Deus recebeu “as palavras do Sinai” (Êxodo 19.1-3) e, lá mesmo, se comprometeu a obedecer e praticar o que o Deus Eterno diz (Êxodo 24.7).  Por isso, o profeta Oséias, a partir do simbolismo do casamento, dirige-se a um povo que se acomodou com as suas próprias palavras e afirma que Deus mesmo irá seduzir Israel, levá-lo ao deserto, e falar-lhe ao coração (OSEIAS 2.14). Eis a razão de o Espírito Santo, após o batismo de Jesus no Jordão, tê-lo empurrado para o deserto. Lá Jesus confronta-se com “as coisas que o acusam” - que é o sentido do nome SATANÁS -, e com  seus “animais selvagens” (a essas “bestas” Mateus e Lucas dão o nome de PODER). Por isso, o Cristo é desafiado a confiar no cuidado de Deus, que está presente na frase “os anjos cuidavam dele” (MARCOS 1.12-13). Concluindo esta palavra pastoral, convidamos o irmão, a irmã, a aceitar de Deus o convite de ir ao deserto e permitir que o Espírito Santo os conduza nessa jornada. No deserto, Deus falará ao seu coração. À semelhança de Jesus, o Cristo, que vocês não tenham medo de encarar as coisas que os acusam, - aquelas coisinhas que insistimos em esconder, os nossos demônios que nos seduzem -, encarando-se também, como num espelho: as falsas imagens de si mesmos, sua espiritualidade mesquinha, sua sede pelo poder, seu desejo de vingança, seus sentimentos e ressentimentos tolos, entre outras coisas. Irmão e irmã, esse convite é pessoal e intransferível. Vocês vão aceitá-lo ou rejeitá-lo? A decisão é sua.


Rev. Cláudio da Chaga Soares
Cor meum tibi offero Domine propmpte et sincere.
                O meu coração ofereço-Te, ó Senhor, pronto e sincero.

(Este texto é parte de uma série de reflexões chamadas: Petiscos de Espiritualidade, palavras pastorais dirigidas à Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória e que encontram-se também no sítio desta igreja.)

domingo, 13 de novembro de 2011

SÉRIE: Petiscos de Espiritualidade


QUEM SOU “EU MESMO”?
Moisés viu que o espinheiro estava em fogo,
porém não se queimava.
Êxodo 3.2
Querida Igreja,
Saúde!

Lá vai Moisés, parábola de todos nós, o menino que foi tirado das águas (Êxodo 2.10). Para o deserto, foge (Êxodo 2.16). Ele, que sempre pensara ser egípcio, descobre-se hebreu. A partir daí, uma crise se instala nele e lá do fundo de sua alma irrompe uma voz inquieta, dizendo: - “Quem sou “eu mesmo”? Então... onde encontrar a resposta? Após muito vagar, Moisés pára na Montanha de Deus e, pela primeira vez, encontra-se com “Aquele que é”, que em hebraico significa também “Serei o que serei” (Êxodo 3.14-15). Moisés vê algo inusitado: uma sarça que arde em chamas sem ser consumida pelo fogo (Êxodo 3.3). Como um menino curioso, ele aproxima-se para ver mais de perto, como que querendo tocar/possuir o Mistério. De repente uma voz irrompe, lá onde a alma silencia, dizendo: “- Pare aí e tire as sandálias, pois o lugar onde você está é um lugar sagrado.” A ordem é clara: “Pare aí”. Parar para avaliar e iniciar novos caminhos. Parar de se preocupar com os afazeres do dia-a-dia (Êxodo 3.1). Então, numa demonstração de reverência, Moisés “folga os nós do sapato”, como diz Gilberto Gil, e rende-se à voz d’Aquele que fala do Espinheiro: espinheiro-sarça, espinheiro-em-mim (cf. II Aos Coríntios 12.7-10). E mais: ao tirar as sandálias, de certa forma Moisés renuncia a toda tentativa de buscar por si mesmo resposta à sua pergunta. Por isso, a terra árida do deserto, tida por muitos como má, torna-se agora santa: espaço sagrado para o encontro com Deus (Êxodo 3.5; cf. Josué 5.15). Assim, com temor e tremor, ele cobre o rosto num gesto de reconhecimento de que seus olhos não podem abarcar todo o Mistério do Deus (Êxodo 3.6). No entanto, ao encontrá-lo, Moisés encontra-se. Descobre-se servo, pronto para retornar ao Egito e anunciar aos irmãos o que Deus lhe fez.E você, já perguntou a Deus quem é você mesmo? Perguntea Ele e você se surpreenderá com a resposta.
rev. Cláudio da Chaga Soares
Cor meumtibioffero Domine prompte et sincere.
O meu coração ofereço-Te, ó Senhor, pronto e sincero.

(Este texto é parte de uma série de reflexões chamadas: Petiscos de Espiritualidade, palavras pastorais dirigidas à Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória e que encontram-se também no sítio desta igreja.)