quarta-feira, 16 de maio de 2012

‘Todos seremos transformados pela vitória do nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15,51-58)


Liderada e coordenada pelo Conselho Nacional de Igrejas- CONIC, terá início no próximo domingo, dia 20 de maio, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.  Inspirados pelo tema: “Todos seremos transformados pela vitória do nosso Senhor Jesus Cristo”. Cristãos e cristãs de todo o hemisfério sul estarão participando deste evento tão importante para a unidade da Igreja. O encerramento acontece no Domingo de Pentecostes, dia 28 de maio.
Durante essa semana, pessoas das mais variadas etnias, religiões cristãs e culturas estarão dedicadas à reflexão sobre a importância da unidade na diversidade. Irmãos e irmãs da Polônia, país marcado por histórias de sofrimento, mas também por muita coragem no testemunho de fé diante de inúmeros desafios, prepararam a semana de oração deste ano.


Um pouco de história

 A celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos começou em 1908 por  or iniciativa do Ver Anglicano Paul James Wattson. Por ocasião da Conferência Missionária na cidade escocesa de Edimburg, em 1910 foram dados os primeiros passos para que a iniciativa do Rev. Wattson fosse assumida por todos os cristãos e cristãs e que a SOUC ocorresse anualmente em todas as igrejas cristãs.
A Conferência tinha como objetivo propor a unidade dos cristãos na missão. Para povos não cristianizados, era difícil compreender divergências doutrinais entre pessoas que seguiam um mesmo credo religioso, sob a égide de um só Cristo. Daí a proposta de criar uma unidade dialogal entre comunidades cristãs de diferentes tradições teológicas.
O princípio que regia essa ideia, em última análise, era simples: muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa (Mc 9.40). A partir de então, houve um esforço coletivo das igrejas presentes nessa conferência de exaltar o diálogo e minimizar o confronto, pois todos levavam a mesma cruz, o mesmo amor e, consequentemente, compartilhavam um só objetivo: anunciar as boas novas do Salvador (Mt 10.7).

Atualmente a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é celebrada por milhões de cristãos no mundo. O decreto sobre ecumenismo do Concílio Vaticano, promulgado em 1964, chamou a oração de alma do movimento ecumênico e animou a celebração. Em 1996, a Comissão Fé e Constituição, do Conselho Mundial de Igrejas, e o Pontifício Conselho pela Unidade dos Cristãos, do Vaticano, começaram a colaborar na elaboração de um texto internacional comum para uso em todo o mundo.

Desde 1968, esses textos internacionais, baseados em temas propostos por grupos ecumênicos existentes no mundo, são adaptados à realidade dos diferentes países. Aqui no Brasil, essa adaptação é feita pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.

No hemisfério norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é de 18 a 25 de janeiro. Mas no hemisfério sul, onde janeiro é tempo de férias, as Igrejas preferem outras datas para celebrar a Semana de Oração como, por exemplo, ao redor de Pentecostes.


Por que esta Semana é tão importante?

Em seu livro “Espiritualidade e Compromisso”, o teólogo luterano Nelson Kilpp dedicou um capítulo sobre a oração e apontou dez boas razões para orar. No caso específico da SOUC, o autor aponta que a oração aproxima-nos de outras comunidades de fé e afirma:

Na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, pessoas de diversas denominações oram em conjunto, em celebrações específicas ou, então, cada dia em outro templo da cidade. Nessa oração se expressa a consciência de que a unidade das igrejas de Cristo é uma obra produzida pelo Espírito Santo, à qual nós podemos dar visibilidade.
As orações ecumênicas representam mais do que o desejo de superar divisões, curar feridas e promover o encontro dos diferentes. Elas expressam a consciência de que todos nós, independente de nossa tradição religiosa, dependemos do mesmo Deus, que é a base de nossa existência[1].

Que esta Semana de Oração possa levar-nos, mais uma vez, ao encontro de outros irmãos e irmãs, e que, orando em conjunto, possamos dar testemunho de que estamos colocando em prática aquilo que afirmamos no Credo Apostólico: Cremos na comunhão dos santos – a una, santa, universal e apostólica Igreja. Amém e Amém.


                                Revda. Sônia Mota


BIBLIOGRAFIA

KILPP, Nelson. Espiritualidade e Compromisso: dez boas razões para orar, praticar a justiça, cuidar da criação, acolher o outro, compartilhar. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2008.

Sites consultados:







                  




[1] KILPP, Nelson. Espiritualidade e Compromisso. p. 21.

sábado, 12 de maio de 2012

Mães que choram


 Para quem tem mãe e motivos para comemorar, hoje é dia de almoço em conjunto, de entrega de flores e presentes. Afinal, à exceção do Natal, esta é uma das datas em que o comércio mais lucra.
 Hoje é dia de mães abraçarem seus filhos e suas filhas e, emocionadas, se esquecerem dos sofrimentos e das angústias que eles lhes causaram. Tudo é esquecido e perdoado. As escolas, igrejas e empresas vão fazer festas e promover homenagens especiais.
 Mas, permitam-me quebrar este quadro tocante para lembrar outras mulheres que também são mães, mas não têm o que comemorar, porque seus filhos ou suas filhas lhes foram tirados do colo e da vida. As estatísticas mostram que, cada dia, dezenas de mulheres enterram um filho ou uma filha. Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), 13 adolescentes morrem diariamente por assassinato no Brasil. De 2006 a 2012, a quantidade de jovens assassinados superará 33 mil[1]. As estatísticas são tão alarmantes que a 15ª Assembleia Nacional de Pastorais da Juventude do Brasil, em 2008, criou a Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens para denunciar o crescimento de jovens mortos em todo o país e propor ações que possam mudar essa realidade. [2]
 Pensando nestas mães que perderam seus filhos, lembro-me de outra mãe, que também passou por essa  dor. O nome dela? Rispa! A sua história está narrada em 2 Samuel 21, no Antigo Testamento[3].
Rispa foi uma das esposas do rei Saul e convivia com as intrigas palacianas. Após a trágica morte do rei, iniciaram seus dias de angústia. Apesar de não participar da vida política, ela se tornou vítima dos grandes e poderosos em sua luta pelo poder. Será que seu nome seria um prenúncio de sua aflição? Afinal, Rispa significa “pedra quente”, ou seja, a pedra aquecida ao fogo, na qual as mulheres assavam o pão. Na época do rei Davi, Rispa enfrentaria uma situação extremamente dolorosa (2 Samuel 21).  Era uma época de estiagem prolongada. Naqueles tempos, era costume atribuir catástrofes naturais a Deus. Também Davi pensava assim. De alguma forma, ele descobriu que a causa da estiagem podia estar relacionada a um crime praticado por Saul contra os habitantes de uma cidade chamada Gibeão. Nada sabemos sobre esse suposto crime.
 Para resolver rapidamente a situação, Davi pergunta aos moradores de Gibeão como esse mal poderia ser desfeito, de modo que as chuvas voltassem. Os gibeonitas exigiram, então, a morte de sete descendentes masculinos de Saul. Davi aceitou a exigência dos gibeonitas e deu-lhes dois filhos e cinco netos de Saul, que foram executados. Seus corpos foram expostos à execração pública no alto de uma penha.
 Os dois filhos de Rispa estavam entre os executados. O que faria essa mãe-viúva, cujos filhos eram seu único arrimo e futuro? O texto bíblico narra o seguinte: “Então, Rispa, filha de Aiá, tomou um pano de saco e o estendeu sobre a penha e não deixou que as aves do céu se aproximassem deles de dia, nem os animais do campo de noite, desde o princípio da ceifa até que sobre eles caiu a água do céu”.
 A enorme dor da mãe não consegue dobrá-la; ela não se conforma com a violência oriunda de divergências políticas. Ela não pergunta se seus filhos eventualmente têm algo a ver com o mencionado crime de Saul ou não. Isso agora é secundário. Ela faz algo inesperado: demonstra publicamente, através do luto, também sua rebeldia contra a injustiça dos poderosos. Ela leva seus trajes de luto – roupa de saco – para onde estão expostos os filhos mortos e espanta os animais e os abutres que querem atacar os cadáveres. Pois os cadáveres devem ficar insepultos, à vista de todos, até que sua morte alcance o objetivo almejado: o fim da estiagem.
 Em sua dor, Rispa não sofre silenciosamente. Através de seu luto realiza um protesto público, demonstrando sua inconformidade. Com seu gesto de amor aos filhos e sobrinhos mortos ela consegue comover, sem palavras, os transeuntes. Com o tempo – o texto dá a entender que podem ter sido até cinco meses –, até o poderoso rei Davi se convence de que eliminar pessoas inocentes por razões políticas não é a forma correta de governar.
 O protesto de Rispa, silencioso e pacífico, que escancara a crueldade de uma sociedade que não respeita a pessoa humana, surtiu efeito: conseguiu mover um grande rei a mudar sua postura política. A “pedra de fogo” queimou a consciência dos poderosos em seu jogo ensandecido pelo poder. Assim, outras mães não precisariam passar pela mesma dor e sofrimento.
 Peço licença para prestar uma homenagem a todas as mães que, no dia de hoje, não comemoram, mas choram pelos seus filhos e filhas mortos pela violência policial, pela violência do trânsito, pelos grupos de extermínio, pelos matadores da nossa sociedade. Mulheres como as Mães de Acari, mães da Praça da Sé, as Mães de Luziânia, que tiveram seus filhos assassinados ou que estão desaparecidos e que, hoje, não terão como presente um abraço, um botão de rosa ou um sorriso. Em vez de receber flores, muitas destas mães levarão flores para a sepultura dos seus filhos e suas filhas, outras continuarão nas praças ou nos programas de televisão, buscando sem cessar por seus filhos, apegando-se a um fio de esperança que impede que desanimem.
 A todas as Rispas o nosso respeito e solidariedade pelos filhos que não poderão abraçar!

Revda Sônia Mota – pastora da IPU
Pastor Nelson Kilpp- IECLB


[1] www.estadao.com.br
[2] WWW. .juventudeemmarcha.org
[3]  Cf. Nelson Kilpp. “Rispa”. Revista Novo Olhar. Sessão Retratos. Edição de janeiro de 2010.