Irmãos e irmãs, querida
comunidade. Fomos encontrar inspiração em uma das músicas mais conhecidas
de Cazuza para ser o tema do nosso
Congresso.
Em 1988 Cazuza cantou sua crítica
ao país através da sua poesia: “Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga
pra gente ficar assim”. A crítica do poeta mostrava sua indignação com a
corrupção, a dívida do Brasil com o FMI, a alienação do povo brasileiro.
Desconfio que a escolha do tema
foi coisa do Rev. Claudio que, conforme todos nós sabemos, usa muito da
inspiração musical nos seus sermões e do presbítero Junior Amorim. Bela escolha. IPU, mostra a tua cara.
Qual é a cara da IPU? Que cara
nós temos? Qual a cara que revelamos e que mostramos?
São 35 anos! Uma pessoa com 35
anos já formou, há muito tempo, seus traços físicos, sua identidade, já se
firmou como pessoa. Pelo menos é o que se espera. E a nossa IPU? Nós somos
capazes de responder que cara ela tem?
Vamos ler os textos bíblicos que
nos inspiram nesta noite.
Êxodo 34.29-35 e II Co 3.17-18
O texto do Êxodo fala da segunda
descida de Moisés do Monte Sinai. A primeira descida foi aquela em que Moisés
se deparou com o povo rebelado contra a sua liderança e contra o próprio Javé. Foi quando Moisés,
irado, quebrou as tábuas da lei. Agora, o contexto é bem outro. Moisés não
sabia, mas seu rosto estava diferente. O rosto dele brilhava. O brilho do rosto
é o reflexo da glória de Deus nas pessoas. O contato com Deus deixa marcas
visíveis às outras pessoas.
- a 1ª reação das pessoas foi de
medo, evitaram se aproximar dele. O contato com o divino sempre tem um elemento
assustador. É um “mistério tremendo”!
- a 2ª reação foi de aproximação.
O medo foi vencido pelo convite de Moisés. Arão e o povo sentiram confiança
para ficar perto de seu grande líder. A comunicação transforma o medo em
curiosidade e, por fim, em confiança.
-3ª reação: escutar tudo que Javé
havia dito a Moisés no Monte Sinai, Moisés disse ao povo as palavras de Javé
tornando-os corresponsáveis pelo cumprimento.
O texto diz que, após a
transmissão dos mandamentos do Senhor, Moisés colocou um véu sobre seu rosto.
Este véu era retirado quando Moisés falava com Javé e quando transmitia ao povo
a sua mensagem. Por que será que ele agia assim? A retirada do véu mostrava que
ele tinha uma relação especial com Deus, que se mostrava no rosto..
O povo de Israel logo sabia que
Moisés havia estado com Deus porque seu rosto estava diferente, ele havia passado
por uma metamorfose. Sempre que ele atuava como porta voz de Javé ele retirava
o véu e mostrava seu rosto brilhante. Quando agia como um ser humano comum, ele
cobria o rosto com o véu. Também a IPU pode mostrar o rosto marcado pela sua
experiência com Deus!?
A segunda carta aos Coríntios
lembra a metamorfose de Moisés e faz uma crítica a todas as pessoas que ainda
vivem com o véu e recusam a mensagem do
evangelho. ( Ler o v. 18). O conhecimento de Cristo e da sua vontade é algo
gradual, é preciso uma retirada gradual do véu, é uma transformação, uma
metamorfose. Isso se pode dizer do “espelho” no v.18: a gente ainda não vê a
glória de Deus diretamente, mas indiretamente, como num espelho. Existe
portanto, um crescimento na fé, na
manifestação da glória de Deus e também na capacidade de a comunidade
testemunhar a sua fé através de sua vida.
Todos nós passamos por
metamorfoses ao longo da existência, Ideias e conceitos se alteram, nosso corpo
fica diferente a cada dia. Será que também temos passado por uma metamorfose
como resultado da nossa vida em comunhão com Deus?
Igreja Reformada sempre se
reformando: Qual a cara da IPU? (Ecclesia reformata semper reformanda!)
Penso que seria muito triste se a
IPU mostrasse a mesma cara que teve no início, há 35 anos. Os nossos desafios
hoje são muito diferentes dos de 35 anos atrás. Ao longo destes anos, tenho
escutado muitas queixas sobre a IPU, tenho visto muita gente se afastar dela
por considerar que ela não cumpriu o que assumira no início. Mas falar da IPU não
é falar de uma instituição abstrata e distante. Querem ver a cara da IPU? (distribuir os espelhos e pedir
que se olhem)
Esta é a cara da IPU, caras
diferentes, sorriso, rugas, barba mal feita, etc. São sinais de que a IPU não é
perfeita, mas é diferente de 35 anos atrás.
Enquanto o nosso rosto resplandecer o nosso encontro com Deus, vamos
ser capazes de fazer muitas coisas. O encontro com Deus provoca mudanças, foi
assim com Paulo, com Maria Madalena, com Zaqueu e com tantas outras pessoas. Vamos
ser fieis ao evangelho de Jesus Cristo que nos manda ir ao encontro do outro,
pregar as boas novas a todas as pessoas sem discriminação, seremos capazes de
termos entusiasmo pelo trabalho da igreja em vez de reclamarmos, seremos
capazes de buscar novas alternativas para o trabalho sem cair na mediocridade e
sem negar nossos princípios. Apesar das imperfeições nós somos uma igreja que
quer mostrar em sua cara, em nossa cara, a glória de Deus, consciência de que
continuamos sendo igreja neste mundo, não somos crentes perfeitos, mas buscamos
como igreja dar testemunho do Deus da graça através de nossa vida cotidiana.
Nós somos a IPU, ela nunca será mais perfeita do que nós o somos. A crítica a
qualquer Igreja, por mais necessária e
pertinente que seja, vai sempre deparar com a finitude e imperfeição dos seres
humanos que a compõem.
Na música Brasil mostra a tua cara, depois de
toda crítica, Cazuza encerra com uma declaração de amor ao Brasil e diz: “Grande pátria desimportante em nenhum
instante eu vou lhe trair, não vou te trair” Eu espero de coração que nós
que estamos aqui, percebamos que a IPU terá ou tem a cara que nós dermos a
ela. Não vamos buscar desculpas ou
culpados se a IPU não caminha do jeito que achamos que devia. Vamos nos
perguntar: como eu tenho contribuído para que a IPU tenha a cara que ela tem?
Cara do desânimo, da acomodação, ou do entusiasmo daquelas pessoas que sempre
buscam enfrentar desafios?
Martin Buber, filósofo judeu que
viveu entre 1878 e 1965, em seu texto “Como se conta uma história”, diz o
seguinte: Certa vez um rabino foi solicitado a contar uma história e ele
começou dizendo que há muitas maneiras de se contar uma história. Mas, dizia
ele, para contar uma história, não basta narrá-la, ela precisa ter sido vivida.
E começou: Há muito tempo eu tinha um avô. Ele tinha uma deficiência na perna e
se movimentava com muita dificuldade, ele era incapaz de andar direito. Certo
dia meu avô foi convidado a falar sobre seu mestre. E ele começou a dizer que
seu mestre tinha um costume muito curioso, que ele costuma pular e dançar
enquanto fazia suas orações de louvor a Deus. À medida que falava a respeito do
mestre e do seu costume, meu avô foi ficando cada vez mais empolgado. De
repente no meio da história ele se levantou e também começou a pular e dançar
para mostrar como seu mestre fazia. Nem parecia aquele homem que não conseguia
andar direito. Após contar este episódio, o rabino concluiu: É assim que se
conta uma história.
Eu espero que a gente aprenda com
o avô do rabino, que a nossa história com a IPU seja contada e vivida com tanto
entusiasmo que a gente possa se transformar ao falar dela. Deus constantemente
nos chama a subir ao monte para conversar com ele e está disposto a nos dar
força e sabedoria para enfrentar todo e qualquer obstáculo, dando-nos,
inclusive, forcas para sermos fiéis aos seus mandamentos de amor, de justiça,
de paz e de solidariedade e darmos o testemunho de seu amor ao mundo. Estamos diante de novos desafios, vamos
buscar respostas e procurar, como igreja cristã enfrenta-los ou vamos nos
esconder?
Somos chamados a revelar o brilho na nossa
face que o encontro com Deus nos proporciona e que nos enche de coragem, de
entusiasmo e determinação. Ainda que não sejamos perfeitos, não há necessidade
de nos escondermos debaixo de um véu, vamos mostrar a nossa cara! E que o Deus
que caminha conosco, nos dê ânimo e coragem! Amém.
(revda. Sônia Mota)