quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PRISCILA E ÁQUILA

    A história da igreja não se faz apenas com indivíduos ilustres de personalidade forte. Desde os primórdios da igreja, grupos de pessoas, famílias inteiras ou casais comprometidos foram decisivos na missão. Isso pode torná-la até mais eficaz. Um casal bem conhecido da história da igreja, já mencionado no Novo Testamento, são Priscila (também chamada Prisca) e Áquila. Os dois aparecem sete vezes na Bíblia
    Sempre são mencionados juntos; geralmente Priscila aparece em primeiro lugar. Esse destaque certamente não é acaso. Priscila deve ter tido a iniciativa maior na missão.
    Priscila e Áquila fazem parte da comunidade judaica de Roma no primeiro século. No ano 49, eles foram expulsos, juntamente com outros judeus, de Roma por causa de sua fé. O imperador Cláudio decretara essa expulsão devido a certos distúrbios ocorridos na comunidade por causa de um tal de “Cresto”.
    Presume-se que discussões entre os judeus que rejeitaram Cristo e os que aderiram a ele tenham levado a um conflito na comunidade judaica e, por fim, ao decreto imperial determinando a expulsão de judeus e cristãos de Roma. Os romanos aparentemente não faziam diferença entre judeus e cristãos.
    Priscila e Áquila foram então morar na cidade grega de Corinto. Ali viveram de sua profissão. Em Corinto, conheceram o apóstolo Paulo, o qual hospedaram em sua casa por 18 meses: “Lá [Paulo] encontrou certo judeu chamado Áquila, […] recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem de Roma […] E, já que eram do mesmo ofício, passou a morar com eles e ali trabalhava, pois a profissão deles era fazer tendas” (Atos 18.2-3).
    A convivência na família e a sociedade no trabalho beneficiaram a missão da igreja. O casal acompanhou Paulo em uma de suas viagens e teve importância decisiva na edificação da comunidade de Éfeso, para onde se havia transferido (Atos 18.18-19). Nessa cidade, ainda cumpriu outra missão: orientar um pregador entusiasmado sobre aspectos decisivos da doutrina cristã.
    “Chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Ele era instruído no caminho do Senhor […], mas conhecia apenas o batismo de João […] Priscila e Áquila tomaram-no consigo e [...] lhe expuseram o caminho de Deus” (Atos 18.24-28). Assim, além de acolher hóspedes em sua casa, o casal também se sentia responsável por orientar os pregadores de sua igreja.
    Depois da morte do imperador Cláudio, Priscila e Áquila voltaram a Roma. Ao escrever sua Carta aos Romanos, Paulo saúda particularmente o casal: “Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isso lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios” (Romanos 16.3-5).
    Não sabemos em que circunstância o casal arriscou sua vida para salvar a de Paulo. Esse ato foi, no entanto, de suma importância não somente para o apóstolo, mas para todas as comunidades gregas.
Mas a atividade rotineira e duradoura do casal em Roma deve ter marcado mais profundamente a vida da igreja. Antes de a comunidade possuir um lugar de oração, ela se reunia na casa de Priscila e Áquila. Esses cultos domésticos eram – e ainda são – muito importantes para a vida comunitária.
    Assim como Priscila e Áquila, muitos casais dedicam-se, das mais diversas formas, à missão da igreja. Todos eles são de máxima importância para a vida das comunidades. Priscila e Áquila continuam sendo um exemplo de discipulado e um estímulo para nosso testemunho.

Nelson Kilpp é especialista em Antigo Testamento, ministro da IECLB. Texto  publicado pela Revista Novo Olhar nº 41 cedido pelo autor.

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