sábado, 15 de setembro de 2012

MEMÓRIAS DA DÉCADA DE 1960 (continuação - parte III)



III – SOBRE A PALESTRA DE MINHA AUTORIA 

A COMISSÃO ORGANIZADORA NACIONAL da Conferência convidou-me, com antecedência, para proferir uma palestra e deu-me o seguinte TEMA- “CONTEÚDO REVOLUCIONÁRIO DO ENSINO DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS”. Eu me senti muito honrado, e aceitei o convite para falar sobre a contribuição do Novo Testamento dentrodo tema da Conferência, já que antes de mim, falaria o meu ilustre colega e amigo, o biblista, Rev. Joaquim Beato sobre a contribuição do Antigo Testamento, focalizando os Profetas. Quando comecei a estudar o tema que a Comissão escolheu, fiquei tão impressionadocom a atualidade do assunto para a Realidade Brasileira, que sugeri que o tema fosse: “A REVOLUÇÃO DO REINO DE DEUS”-e que ficasse, como subtema: ‘CONTÉUDO REVOLUCIONÁRIO DO ENSINO DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS.” A Comissão concordou, apesar de alguns colegas e irmãos achassem que eu estivesse “radicalizando” ao usar a palavra ‘REVOLUÇÃO’ aplicando-a ao ensino e à ação de Jesus. Ainda hoje, nem todos concordam com a escolha para usar essa palavra. A última sugestão foi  a do teólogo batista, Dr. Jorge Pinheiro,em seu excelente livro “DEUS É BRASILEIRO” publicado em São Paulo,SP, em 2008.Ele sugeriu que eu devia usar a palavra transliterada da língua grega, “KAIRÓS”, em lugar de “Revolução”. Acho que a sugestão dele é boa, mas eu ainda não estou convencido, porque, consultando o texto grego de Atos dos Apóstolos 17. 6, quando relata o que aconteceu na cidade de Tessalônica como resultado da pregação do apóstolo Paulo e seu colaborador Silas, e com a participação de um grupo de novos convertidos, o historiador Lucas usa o verbo grego “ANASTATÓW”, que pode ser traduzido por: “transtornar”, “alvoroçar”, “virar de cabeça para baixo”, “virar pelo avesso”,e, até “revolucionar”. Foi o que aconteceu naquela cidade. Houve um alvoroço teológico, ético e social em Tessalônica relembrado por Paulo no 1º Capítulo de sua 1ª Epístola Aos Tessalonicenses. Também porque gosto muito das palavras  do grande historiador, doutorJ.H.MerleD’Aubigné em seu monumental livro ‘HISTORY OF REFORMATION”, quando declarou: “O Cristianismo e a Reforma são as duas maiores revoluções da História. Elas não foram limitadas a uma nação...mas se estenderam por várias  nações e seus efeitos são destinados a ser sentidos até os confins da terra.  Antes dessa declaração ele explica que usa essa palavra REVOLUÇÃO, referindo-se ao Cristianismo porque “ Uma Revolução  é uma mudança na vida total dos seres humanos. É alguma coisa nova que se desenrola no seio da humanidade...”Assim podemos dizer que o que aconteceu em Tessalônica foi uma Revolução porque, lá os cristãos praticaram um evangelização “REINOCÊNTRICA”  e não “ANIMOCÊNTRICA” porque apresentaram, como João Batista, Jesus e seus discípulos o “BASILEIAÉTERON”,“O OUTRO REI!”para a realidade total da pessoa humana e da sociedade., prescindindo qualquer outro CÉSAR deste mundo. Essa é  a ‘Revolução do Reino de Deus “ que o Brasil precisa. Naquela época, emtodo o Império Romano a religião dominante era o CULTO AO IMPERADORe os cristãos,  em todas as cidades e vilas, eram obrigados a cultuar as imagens do Imperador, e deviamacender o incenso para  adorar a estátua, chamando o Imperador de “DOMINUS, REX ET DEUS!”. Quem rejeitasse a fazer esse gesto religioso era sacrificado, como aconteceu com Policarpo (110 AD), o pastor de Esmirna, na Ásia Menor. Por isso o livro do APOCALIPSE tem uma mensagem atualíssima porque apresentou aos cristãos dos primeiros séculos, que havia um trono na terra, onde estava assentada a BESTA, ou a FERA, (Ap.13) que era CÉSAR, e outro trono onde estava assentado o “CORDEIRO que foi morto e reviveu.(Ap 5.1-13). O cristão está desafiado a escolher entre um e outro. Hoje temos assentado nos tronos da terra,  novos deuses, um deles é chamado: “DEUS DO MERCADO.”


(texto apresentado na ocasião das comemorações dos 50 anos da Conferência do Nordeste, em Vitória - ES, gentilmente cedido pelo Rev. João Dias de Araujo. Memórias que nos inspiram e desafiam...)

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