segunda-feira, 3 de setembro de 2012

MEMÓRIAS DA DÉCADA DE 60

João Dias de Araújo

I – INTRODUÇÃO.

Para mim, a década de 1960,foi a mais surpreendente deminha vida. Eu que nasci no início da década de 1930. (Ouvindo, em Mato Grosso, o silvo das balas das Colunas Prestes e Siqueira Campos). Costumo recordar e avaliar a minha vida pessoal por décadas. Nos meus 82 anos de vida, experimentei 36 anos de ditadura: (15 anos sob a Ditadura - Vargas e 21 anos sob Regime Militar). Na primeira ditadura sofri, ainda adolescente, quando era “office boy” de meu pai, Rev. Augusto José de Araújo, na Redação do Jornal A PENA EVANGÉLICA, da cidade de Cuiabá, MT que foi censurado pelo poderoso DIP(Departamento de Imprensa e Propaganda), que era o braço da ditadura que atingia os órgãos de comunicação social, principalmente  a imprensa.  Entre as atividades do único jornal evangélico do Estado de Mato Grosso foi uma campanha para acabar com as touradas na Capital. E acabou!Na segunda ditadura sofri muito mais, porque, a partir dos meus trinta e quatro anos, estava mais envolvido com as lutas do povo nordestino, e na Igreja, pois era pastor, professor e deão ,do Seminário Presbiteriano do Norte, no Recife.
A década de 1960foi, paradoxalmente, a década de maior diálogo e, também, de maior repressão da História do Brasil. O diálogo imperava em todo o território brasileiro:  entre empregados e patrões, entre camponeses e coronéis - fazendeiros, entre estudantes e professores,  entre pais de alunos e  diretores de escolas, entre leigos e clérigos, entre eleitores e autoridades eleitas, entre analfabetos e doutores, ente as elites e as plebes, entre socialistas e capitalistas, entre militares fardados e civis paisanos, entre jovens e adultos, entre feministas e machistas...Mas também foi a década de maior repressão para frear os diálogos, pois desagradavam os políticos conservadores, os direitistas que estavam no poder, as cúpulas das Forças Armadas, os profissionais liberais acomodados, as lideranças clericais conservadoras e fundamentalistas, entre teólogos conservadores e teólogos da Teologia da Libertação.O ato mais forte da censura e da repressão foi o ATO INSTITUCIONAL Nº 5,promulgado pelo Governo Militar, em dezembro de 1968. Os outros quatroAtos Institucionais a  partir de 1964, definiram as formas de repressão da Ditadura. O humorista Chico Anísio irritou os militares quando declarou:
”QUEM NÃO TEM CACHORRO CAÇA COM GATO!
                             QUEM NÃO TEM GATO “CASSA” COM ATO!”        
Este clima de diálogos e repressões espalhavam-se por toda a América Latina, radicalizado pelo êxito da Revolução Cubana, em 1959 e pela reação do Governo Norte Americano, no auge do Macarthismo, que fortaleceu a sua interferência através da CIA não só no  Brasil, mas especialmente  na Argentina, no Chile, no Uruguai e em todos os  territórios ao “Sul do Rio Grande”, isto é, do México à  Patagônia.
1.    Em meio a esse clima de diálogos e repressões, reuniram-se, de 22 a 29 de julho de 1962, na cidade do Recife,PE, as lideranças das principais Igrejas Evangélicas do Brasil, convocadas pelo Setor de Responsabilidade Social da Igreja da CEB(Confederação Evangélica do Brasil) para realizarem a  4ª  Reunião de Estudos Sobre  Responsabilidade Social da Igreja, iniciados em 1955, e que agora iam tratar do tema:: CRISTO E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO, continuando os estudos da 3ª Reunião,no início da década, em fevereiro de 1960, sobre a PRESENÇA DA IGREJA NA EVOLUÇÃO DA NACIONALIODADE.
As palavras de ordem nessa década eram: “REVOLUÇÃO”, “LATIFÚNDIO”, “REFORMAS DE BASE”,“ALIANÇA PARA O PROGRESSO”, “CRISE”, “DESENVOLVIMENTO”, “DIREITISMO”, “ESQUERDISMO”, “SUBVERSÃO” “SOCIALISMO”, “COMUNISMO”, “CAPITALISMO”, “REFORMA AGRÁRIA NA LEI OU NA MARRA” “ECUMENISMO”, “FUNDAMENTALISMO”, “SEGURANÇA NACIONAL”, “DEMOCRACIA”, “DITADURA”,“REALIDADE BRASILEIRA” e outras. Era uma hora emque as Igrejas deveriam se reunir  para perguntarem, não “o que Marx tem a dizer?”  nem “o que Adam Smith tem a dizer?”, nem “o que as Grandes Potências têm a dizer” mas O QUE CRISTO TEM A DIZER SOBRE O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO? E foi isso que aconteceu na Conferência do Nordeste

 (texto apresentado na ocasião das comemorações dos 50 anos da Conferência do Nordeste, em Vitória - ES, gentilmente cedido pelo Rev. João Dias. Memórias que nos inspiram e desafiam...Aguardem continuação!)

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