João Dias de Araújo
I –
INTRODUÇÃO.
Para
mim, a década de 1960,foi a mais surpreendente deminha vida. Eu que nasci no
início da década de 1930. (Ouvindo, em Mato Grosso, o silvo das balas das
Colunas Prestes e Siqueira Campos). Costumo recordar e avaliar a minha vida
pessoal por décadas. Nos meus 82 anos de vida, experimentei 36 anos de
ditadura: (15 anos sob a Ditadura - Vargas e 21 anos sob Regime Militar). Na
primeira ditadura sofri, ainda adolescente, quando era “office boy” de meu pai,
Rev. Augusto José de Araújo, na Redação do Jornal A PENA EVANGÉLICA, da cidade de Cuiabá, MT que foi censurado pelo
poderoso DIP(Departamento de Imprensa e Propaganda), que era o braço da
ditadura que atingia os órgãos de comunicação social, principalmente a imprensa. Entre as atividades do único jornal evangélico
do Estado de Mato Grosso foi uma campanha para acabar com as touradas na
Capital. E acabou!Na segunda ditadura sofri muito mais, porque, a partir dos
meus trinta e quatro anos, estava mais envolvido com as lutas do povo
nordestino, e na Igreja, pois era pastor, professor e deão ,do Seminário Presbiteriano
do Norte, no Recife.
A
década de 1960foi, paradoxalmente, a década de maior diálogo e, também, de
maior repressão da História do Brasil. O diálogo imperava em todo o território
brasileiro: entre empregados e patrões,
entre camponeses e coronéis - fazendeiros, entre estudantes e professores, entre pais de alunos e diretores de escolas, entre leigos e
clérigos, entre eleitores e autoridades eleitas, entre analfabetos e doutores,
ente as elites e as plebes, entre socialistas e capitalistas, entre militares
fardados e civis paisanos, entre jovens e adultos, entre feministas e machistas...Mas
também foi a década de maior repressão para frear os diálogos, pois
desagradavam os políticos conservadores, os direitistas que estavam no poder,
as cúpulas das Forças Armadas, os profissionais liberais acomodados, as
lideranças clericais conservadoras e fundamentalistas, entre teólogos
conservadores e teólogos da Teologia da Libertação.O ato mais forte da censura
e da repressão foi o ATO INSTITUCIONAL Nº 5,promulgado pelo Governo Militar, em
dezembro de 1968. Os outros quatroAtos Institucionais a partir de 1964, definiram as formas de
repressão da Ditadura. O humorista Chico Anísio irritou os militares quando
declarou:
”QUEM
NÃO TEM CACHORRO CAÇA COM GATO!
QUEM NÃO TEM GATO “CASSA”
COM ATO!”
Este
clima de diálogos e repressões espalhavam-se por toda a América Latina,
radicalizado pelo êxito da Revolução Cubana, em 1959 e pela reação do Governo
Norte Americano, no auge do Macarthismo, que fortaleceu a sua interferência
através da CIA não só no Brasil, mas especialmente
na Argentina, no Chile, no Uruguai e em
todos os territórios ao “Sul do Rio
Grande”, isto é, do México à Patagônia.
1. Em
meio a esse clima de diálogos e repressões, reuniram-se, de 22 a 29 de julho de
1962, na cidade do Recife,PE, as lideranças das principais Igrejas Evangélicas
do Brasil, convocadas pelo Setor de Responsabilidade Social da Igreja da
CEB(Confederação Evangélica do Brasil) para realizarem a 4ª
Reunião de Estudos Sobre
Responsabilidade Social da Igreja, iniciados em 1955, e que agora iam
tratar do tema:: CRISTO E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO, continuando os
estudos da 3ª Reunião,no início da década, em fevereiro de 1960, sobre a
PRESENÇA DA IGREJA NA EVOLUÇÃO DA NACIONALIODADE.
As
palavras de ordem nessa década eram: “REVOLUÇÃO”, “LATIFÚNDIO”, “REFORMAS DE
BASE”,“ALIANÇA PARA O PROGRESSO”, “CRISE”, “DESENVOLVIMENTO”, “DIREITISMO”, “ESQUERDISMO”,
“SUBVERSÃO” “SOCIALISMO”, “COMUNISMO”, “CAPITALISMO”, “REFORMA AGRÁRIA NA LEI
OU NA MARRA” “ECUMENISMO”, “FUNDAMENTALISMO”, “SEGURANÇA NACIONAL”,
“DEMOCRACIA”, “DITADURA”,“REALIDADE BRASILEIRA” e outras. Era uma hora emque as
Igrejas deveriam se reunir para
perguntarem, não “o que Marx tem a dizer?”
nem “o que Adam Smith tem a dizer?”, nem “o que as Grandes Potências têm
a dizer” mas O QUE CRISTO TEM A DIZER SOBRE O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
BRASILEIRO? E foi isso que aconteceu na Conferência do Nordeste
(texto apresentado na ocasião das comemorações dos 50 anos da Conferência do Nordeste, em Vitória - ES, gentilmente cedido pelo Rev. João Dias. Memórias que nos inspiram e desafiam...Aguardem continuação!)
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