sábado, 15 de setembro de 2012

TIAGO - O MAIOR



                                                                                                  Nelson Kilpp*
 

                       
O “caminho de Santiago“ é uma conhecida rota de peregrinação que reproduz o caminho percorrido na Idade Média por inúmeros peregrinos até o famoso santuário de Santiago de Compostela no norte da Espanha. Esse santuário tem uma longa história. Sua origem está vinculada ao discípulo de Jesus chamado Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João. Para diferenciá-lo de outro Tiago, filho de Alfeu, ele geralmente é chamado de Tiago, o maior, ou seja, o mais velho.
Tiago era um nome muito conhecido na época de Jesus. Ele próprio tinha um irmão com esse nome. O nome hebraico, na verdade, é “Jacó”, o mesmo do famoso patriarca de Is­rael. Ele foi transformado, nas línguas latinas, em “Iago” e, posteriormente, em “Sant(o)iago”, abreviado para “Tiago”.
Juntamente com seu irmão João, Tiago, o maior, foi um dos primeiros discípulos vocacionados por Jesus. “[Jesus] viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes, e chamou-os. No mesmo instante, deixando o barco e seu pai, eles o seguiram” (Mateus 4.21s). Tiago e João eram, portanto, assim como Pedro, pescadores galileus.
Não sabemos o que motivou os dois irmãos a abandonar a pescaria no mar da Galileia para seguir Jesus. Em todo caso, estiveram com Jesus desde o início de sua atividade. Por isso, ao lado de Pedro e João, o nosso Tiago sempre teve um lugar de destaque no grupo dos discípulos de Jesus e na vida da comunidade (por exemplo Lucas 8.51). Ele esteve presente nos momentos importantes da vida de Jesus, por exemplo no monte da transfiguração e no jardim do Getsêmani (Mateus 17.1; 26.37).
A vida de Tiago mostra que um discípulo não nasce pronto, mas amadurece através de um longo processo de crescimento. Ainda no início de seu ministério, Jesus dá aos dois irmãos Tiago e João o apelido de “os filhos do trovão”. Esse cognome deve-se, sem dúvida, ao fato de que os irmãos eram um tanto impetuosos e, quem sabe, até briguentos.
Quando esteve com Jesus no monte da transfiguração, Tiago foi um dos que pôde presenciar a glória e o poder que cercavam seu mestre Jesus (Mateus 17.1-8). Mas ele provavelmente entendeu mal esse extraordinário poder dado ao mestre. Como muitos outros, também Tiago pensava que Jesus expulsaria os romanos da Palestina e fundaria um novo reino, em que os discípulos teriam importantes funções de comando.
Mateus 20.20-28 conta que a mãe de Tiago (e João) pede a Jesus que dê a seus filhos um lugar de destaque no futuro reino de Jesus. Quando esse perguntou se os dois irmãos também poderiam “beber o cálice” que ele iria beber, responderam afoitamente: “Podemos”.
O impetuoso, afoito e ambicioso Tiago também esteve presente no Getsêmani momentos antes da prisão de Jesus. Ali, Tiago e seus companheiros mostraram toda a sua fraqueza, adormecendo quando tinham a tarefa de vigiar. Mas todo esse caminho foi necessário para que Tiago aprendesse que Jesus veio trazer o reino do amor e não o reino da violência.
No fim de sua vida, por levar a sério esse novo reino do amor, Tiago sofreu o martírio no ano 43 sob o rei Herodes Agripa: “Por aquele tempo, mandou o rei Herodes prender alguns da igreja para os maltratar, fazendo passar a fio de espada a Tiago, irmão de João” (Atos 12.1s). Clemente de Alexandria acrescenta que ele foi decapitado após ter convertido seu acusador.
De acordo com uma lenda, o cadáver de Tiago foi levado por seus discípulos, num barco sem tripulantes, até o noroeste da Espanha, onde foi sepultado. No século 9, o apóstolo Tiago teria aparecido a um eremita no “campo da estrela” (Compostela), o que levou à construção de um santuário sobre o suposto sepulcro de Tiago, que se tornou o destino da famosa peregrinação.

Nelson kilpp : * Especialista em Antigo Testamento, pastor da IECLB, texto cedido pelo autor, publicado na Revista Novo Olhar Ano 09 nº 40 da Editora Sinodal.  



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